O DESABAFO DESTA PROFESSORA É O MESMO DE TODAS AS PROFESSORAS QUE LUTAM POR UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E PENSAM NO FUTURO DE UMA NAÇÃO QUE PRECISA CRESCER NA HONESTIDADE E A CERTEZA DE SEUS DEVERES CUMPRIDOS.POR ESTE MOTIVO COMPARTILHEI ESTA REFLEXÃO EM MEU BLOG
O (Des) estímulo de Ser Professor e o (Des) envolvimento da Sociedade
Dizem que uma boa conversa vai longe. Que um bom papo puxa outro. E uma boa escrita, tece muitos comentários (ensinamento de uma professora que tive).
Que tal refletirmos sobre a célebre frase de Abrahan Lincoln: “Podeis enganar toda a gente durante certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente.”
Com esta prerrogativa não podemos ignorar o momento que estamos vivendo. O futuro de nossa profissão está sendo arquitetado agora. Então desta vez não poderemos repetir os mesmos erros, não poderemos mais nos iludir com as falsas promessas ou com mentiras funcionais, aquelas que mitigam os conflitos, mas não curam as feridas da humanidade.
Vale lembrar que o homem age intencionalmente. Logicamente motivado. Temos vontades, necessidades e impulsos. Temos atitude em tudo o que fazemos. Até mesmo quando pensamos que não estamos tendo atitude. Por estes motivos e outros não citados aqui, somos intenção naquilo que fazemos.
Neste momento meu desejo é o de escrever. Tomara que meus pensamentos não me traiam. Escrevo estimulada pelo (des) estímulo em ser professor na atualidade. Escolhemos esta profissão. Isto não é um desalinho. Quando decidimos fazer um curso de licenciatura, optamos pela nobreza desta profissão.
O presente vivido nunca foi tão propício ao descortinamento das mazelas vividas pelos professores, do caos instalado desde outrora na educação, por isso me arrisco. É de berço. Aprendi com meus pais, que podemos nos sentir algumas vezes diminuídos, mas nunca se deixar abater moralmente.
As escolas públicas que tive me ensinaram que não podemos ser manipulados pelas estruturas dominantes. Ficar inertes. Não podemos silenciar como o rochedo que viu o mar engolindo o barco…
Temos que pensar por nós mesmos, sem esquecer ou banalizar nossas origens. O que percebo é que está faltando rigor e ética e sobrando incompetência nos discursos panfletários de políticos que nunca se preocuparam com a educação.
Hoje, dia 20 de junho de 2011, ouvi a entrevista concedida pelo atual governador ao serviço de rádio da secretaria de comunicação do Estado. Seu intuito: esclarecer as medidas do governo e as negociações para o encerramento da greve em Santa Catarina.
Chamou-me, logo a atenção; “o governo de Santa Catarina está pagando o piso, além do piso, nós aceitamos a reivindicação, achamos ela justa, nós precisamos atender e o professor precisa ganhar mais… não na plenitude que os professores querem.” Faltou dizer, não pagaremos aos professores o que eles realmente merecem.
Prestei bem atenção a sua fala, governador. Seria justo e nobre de sua parte, se fizéssemos juntos um debate. Uma acareação, na verdade. Que tal, governador passar a tribuna para os professores? Isso seria muito interessante.
Nós, professores, conhecemos bem o significado da palavra demagogia. O governador nos deu uma lição de demagogia hoje. Não posso felicitá-lo. Isto não é correto.
Será que muitos lares catarinenses passarão a ver os professores como vilões e o governo como o perseguido da história após este e tantos outros pronunciamentos que irá fazê-lo? Quanta artimanha, hein?
Fiquei imaginando as crianças e os adolescentes em fase de desenvolvimento da personalidade, ouvindo tal entrevista. Pais e mães que sonham com a formatura de seus filhos. Com a universidade pública e de boa qualidade.
Rapidamente, pensei na tamanha desigualdade, trabalhar o ano todo para receber R$ 25.935,08 e se dar conta que este é o salário mensal de um governante desse país. Que talvez, pouco tenha se dedicado aos bancos escolares, pouco tenha lido, pouco ou nada tenha feito na academia. Conheço poucos cientistas políticos.
E a falácia da educação, quase um coro dos candidatos nas campanhas eleitorais. Passado isto não é prioridade, nunca foi. Países de alto grau de desenvolvimento econômico investem na educação, na ciência e na tecnologia. Países que não tem a educação como prioridade aprenderam sorrateiramente desviar o dinheiro público.
Relutei, por mais alguns segundos, ouvindo tal engodo e tive que chorar. E o choro foi doído. Pode me chamar de passional, se quiser.
Pensei nas pessoas deste Estado, que vivem à margem? As famílias de nossos alunos? As nossas famílias? Nós, professores não ignoramos estas condições. Até quando os governos vão nos ignorar? Os governos não podem nos ignorar. Que lição malfeita essa! Afinal o que nós, professores representamos para a sociedade?
Muitas vezes a mídia insinua sobre os culpados da educação. Mas depende somente dos professores o sucesso e o fracasso/da educação brasileira? Qual é a nossa produção na sociedade? Ou melhor, qual é o produto da educação das pessoas?
Precisamos de professores. De bons professores, boas famílias, bons alunos, bons governos, boas escolas, gestão de pessoas, respeito nas relações de trabalho, políticas públicas, bondade, bondade. Precisamos ser melhores, não no sentido de sobrepujar o outro, mas vencer e superar nossas próprias limitações. Precisamos de pessoas boas no mundo.
Por que os professores estão sendo tão penalizados? Por que o governo continua mascarando nossa realidade? Por que o nosso movimento grevista não teve repercussão nos meios de comunicação a nível nacional ainda? Outros Estados brasileiros e professores estão nesta mesma função.
É incontestável a relação que existe entre a educação e a economia de um país. Educação é tudo! Só se faz educação com pessoas e para as pessoas. Os maneirismos e as arbitrariedades são descabidos para quem quer agir com zelo.
Para que e para quem servem as escolas? As escolas não podem mais ser lembradas simplesmente pelo giz, pelo quadro-negro, pelas cadeiras enfileiradas.
E o processo de desenvolvimento humano? O que os governos nos ensinam após se reunirem com suas bases aliadas? Que conhecimentos são transmitidos e produzidos, que valores estão tentando incorporar? Quem se preocupa com os professores?
São tantos os questionamentos. Pois, é. A era é do conhecimento, da informática, das redes sociais. No entanto, a humanidade não está apta a experimentar a evidente realidade do consumismo desmedido e dos imediatismos nas relações humanas. A educação é tarefa complexa, as pessoas são complexas.
O que podemos antever diante dessa situação caótica na educação catarinense? As relações humanas precisam ser afetivas, de respeito e não interesseiras. Estamos apostando em um novo tempo, apesar do perigo… Estamos esperançosos como Paulo Freire que morreu acreditando em uma educação libertadora, sem opressões, sem pessoas oprimidas.
Quando esta grande nuvem cinza de dúvidas e insatisfações passar vamos nos lembrar de tudo isso. Não vamos nos contentar com a hipocrisia. A memória dos professores não pode ser curta. Pelo amor Deus! Existirão muitos significados para todos aqueles que lutaram com dignidade. Já não somos mais os mesmos.
Repito, não vale mais ser como o rochedo que silenciou após ter presenciado o mar engolir o barco. A história é outra. Os heróis serão outros. Para finalizar mais uma dele: “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” (A. Lincoln).
Obrigada pelo espaço de reflexão. – Cristina Sutil – de Otacílio Costa.
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